Saiba mais sobre a marca do indianismo na literatura brasileira
Postado em 05 DE junho DE 2021

Conduzida pelo professor Fábio Martinelli Casemiro, a oficina online Indianismos na Literatura Brasileira teve início em 5 de junho e traçou panorama da presença, destacou importância e assinalou marcas da cultura indígena nos textos literários. A primeira aula levou os alunos dos primeiros registros sobre a natureza no nosso território até conteúdos nos quais a voz desses povos está impressa no papel de protagonistas de suas próprias histórias.
A relação de Casemiro, poeta, músico e doutor em Literatura pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), é forte. Em sua pesquisa de pós-doutorado no curso de Letras da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), ele estuda representações de natureza na literatura brasileira e essa paixão pelo assunto só tem crescido. Casemiro conta que, diante do que tem coletado, vem compreendendo que essa presença - da natureza - está constantemente atrelada às manifestações das culturas popular, negra e indígena. E foi esse o caminho que o levou a estudar também - como frisa - a literatura indígena.
O professor ressalta que, com os textos, observamos ainda como se dão as estratégicas políticas que nascem das relações estabelecidas a partir da presença dos colonizadores diante dos povos originários, e até da migração forçada do tráfico vergonhoso de escravos africanos para o Brasil. Como os indígenas aparecem - ou não - em nossa literatura diz muito sobre o olhar para o outro e como nos reconhecemos em nossas multiplicidades e diferenças, acrescenta.

O professor lançou provocações sobre quem são e como estão retratados os povos originários na história da literatura brasileira. E demonstrou que não há uma só resposta para esse questionamento. Segundo Casemiro, muitas vezes nem nos atentamos à forma de identificação e seguimos lendo conteúdos que mostram esse cenário povoado pelos indígenas, mas sem a análise e reflexão aprofundadas e necessárias.
Como apontou em aula, os povos indígenas são retratados, até o século XVII, em geral, em textos épicos (grandes narrativas heroicas que tem nos colonizadores seus protagonistas) ou informativos (verdadeiros tratados descritivos de costumes e características da terra) ou ainda em religiosos (com o indígena como "alvo" de conversão). Para reforçar a afirmação, ele citou o crítico literário Antonio Cândido, em conteúdo extraído do livro "Literatura e sociedade": "poderíamos dizer que as manifestações literárias, ou de tipo literário, se realizaram no Brasil, até a segunda metade do século XVIII, sob o signo da religião e da transfiguração".
Para compreender melhor o que se deu entre os séculos XVII e XVIII, Casemiro compartilhou referências como as obras "Prosopopeia", de Bento Teixeira (de 1601); "Uraguai", de Basílio da Gama (de 1769); "Caramuru", de Frei Santa Rita Durão (de 1781); e "Vila Rica", de Cláudio Manuel da Costa (de 1773). Ao detalhar alguns trechos dos títulos, fez inclusive alusão ao longa-metragem "Caramuru - A invenção do Brasil", dirigido por Guel Arraes, com Selton Mello e Camila Pitanga no elenco. Ao passar as explicações para o século XIX, o professor destacou textos de Gonçalves de Magalhães ("A confederação dos tamoios") e Gonçalves Dias ("Juca Pirama" / "Os Timbiras"). Segundo Casemiro, dentro do romantismo da época, é possível observar as várias subtendências da descrição de indígenas, mas sempre com a característica de enaltecimento da nação; elege-se o indígena como herói da fundação da raça, do caráter brasileiro. Ainda nesse período, os romances de José de Alencar são bastante lembrados como "O Guarani", "Iracema" e "Ubirajara". "O Guêsa errante", de Sousândrade, também foi citado pelo professor que avançou ainda em temas relacionados à Semana de 22, ao Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade, e "Magma", livro de poemas de Guimarães Rosa, de 1936.

A aula contou ainda com as citações de autores contemporâneos que vivem, tratam ou retratam o tema como Kaká Werá, Ailton Krenak e Eliane Potiguara, entre outros. Como uma espécie de lição de casa, Casemiro deixou para os alunos a indicação da leitura do conto "O meu tio o Iauaretê", de "Estas histórias", de Guimarães Rosa. Mas fez a ressalva que, para uma melhor compreensão, optassem pela leitura disponível no YouTube feita pelo ator Lima Duarte. Por que não experimentar estas e outras indicações do professor em aula e construir suas próprias reflexões a partir do tema?
A oficina Indianismos na Literatura Brasileira, que faz parte do projeto Literatura Brasileira no XXI, realizada em parceria com a UNIFESP, vai até 27 de junho, com encontros aos sábados, das 10h às 13h. Os textos desenvolvidos nas aulas (artigo, ensaio, reportagem, dissertação ou até poesia, como salientou o professor) a partir das reflexões nas atividades, poderão ser vistos em breve no site da iniciativa.

Notícias

Governo de São Paulo realiza 18ª edição do Prêmio São Paulo de Literatura
Autores dos melhores romances de ficção receberão prêmio de R$ 200 mil. Inscrições vão até dia 18 de julho de 2025.
Postado em 04 DE junho DE 2025
SisEB é reconhecido como a melhor marca pública do mundo no iF DESIGN AWARD 2025
Prêmio internacional destaca a nova identidade visual do SisEB e reforça seu compromisso com a inovação e a acessibilidade nas bibliotecas públicas
Postado em 07 DE março DE 2025
Encontros regionais debatem políticas públicas para o livro e a leitura em SP
Agentes do setor se reúnem a partir de amanhã (11/02) para contribuir na construção do Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca. Veja como participar
Postado em 10 DE fevereiro DE 2025
BibliON recebe prêmio internacional por inovação em leitura
A iniciativa, gerida pela SP Leituras para a Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, foi reconhecida pela EIFL pelo seu programa de Clubes de Leitura
Postado em 03 DE fevereiro DE 2025