Ricardo Azevedo na BSP
Postado em 23 DE outubro DE 2014A Biblioteca de São Paulo (BSP) recebeu o escritor e ilustrador Ricardo Azevedo durante o programa permanente Segundas Intenções. O encontro foi no sábado, 18 de outubro, às 11 horas, com mediação da jornalista Mona Dorf. O autor conversou sobre literatura e cultura popular, leu trechos da obra Cultura da terra e falou do Prêmio Jabuti recentemente conquistado com Fragosas brenhas do mataréu (Ática), na categoria Juvenil, e o segundo lugar com Abençoado e danado do samba: Um estudo sobre o discurso popular (Edusp), na área de Teoria e Crítica Literária. Ao final da apresentação, ganhou camiseta e recebeu carta e convite de crianças que vão encenar peça de sua autoria na escola Espaço Aberto, na Vila Mariana.
Sobre literatura, disse que ela trata de “coisas que não são passíveis de serem ensinadas, é o indizível”. Falou que sua obra tem duas vertentes: uma, criada e pensada por ele, e outra que é baseada em pesquisas da cultura popular. “Aprendi muito a escrever lendo contos populares, que têm sabedoria e articulação muito sofisticadas de linguagem”, revelou.
Sobre Fragosas brenhas do mataréu, comentou que a pesquisa foi de oito meses; a obra levou três anos para ficar pronta. Uma das tarefas foi a leitura de textos do descobrimento do Brasil e de obras clássicas de autores como Sérgio Buarque de Holanda. A trama é sobre um menino de 15 anos que tem a mãe assassinada na Inquisição – acusada de ser bruxa -, e, órfão, vira grumete num navio com destino para o Brasil.
Outro caso curioso foi quando escreveu um dos seus maiores sucessos: O leão Adamastor. A história é sobre um leão que foge do circo e em determinado momento se finge de cachorro para ser adotado por um senhor idoso, aprendendo inclusive a latir e mexer o rabo. “Faço uma grande associação do leão fugindo do circo e a minha história pessoal. Larguei a publicidade depois de 11 anos, fugi do emprego e virei escritor”, confessou. “Acredito que o trabalho que a gente escolhe é uma das nossas expressões.”
Falou também da tese de doutorado que virou o livro Abençoado e danado do samba (...). No estudo sobre o discurso popular, ele identificou três graus de popularidade: o primeiro é um conhecimento especializado, como os iniciados no candomblé ou os praticantes de capoeira. O segundo, com as camadas mais populares, desde o caipira até o favelado. O terceiro grau abrange todas as classes, e se expressa em músicas como o “Parabéns para você” e em expressões como “grana” ou “legal”.
Em todas essas categorias do popular, ele analisa conceitos comuns como a hierarquia, a importância da família, a preferência da experiência prática em contraponto a escola e a forte presença da religiosidade. “Nas camadas populares existe uma leitura do mundo e um pensamento crítico muito interessante”, finalizou.
O paulista Ricardo Azevedo já escreveu mais de cem livros infantojuvenis e ganhou muitos prêmios, entre eles, quatro vezes o Jabuti – com as obras Alguma coisa (FTD), Maria Gomes (Scipione), Dezenove poemas desengonçados (Ática) e A outra enciclopédia canina (Companhia das Letrinhas) –, o APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e outros.
Vale destacar também O motoqueiro que virou bicho, Fazedor de tatuagem e O chute que a bola levou (Moderna); O livro de papel e O livro das palavras (Brasil); Contos de enganar a morte e No meio da noite escura tem um pé de maravilha (Ática).
Alguns de seus livros foram publicados na Alemanha, Portugal, México, França e Holanda. Tem textos em coletâneas editados na Costa Rica.
O Segundas Intenções é um programa permanente mensal de bate-papo com escritores, realizado pela SP Leituras, com curadoria de Manuel da Costa Pinto. Já participaram do evento Pedro Bandeira, Ruth Rocha, Fernando Bonassi, Marçal Aquino, Milton Hatoum, Ignácio de Loyola Brandão, Fernando Morais, Reinaldo Moraes, Marcelo Rubens Paiva, Ferréz, Ruy Castro, Xico Sá, Daniel Galera, Adriana Calcanhotto, Luis Fernando Verissimo, Alice Ruiz, Marcelino Freire, Sérgio Vaz, José Miguel Wisnik, José Roberto Torero, Laurentino Gomes, Luiz Bras, Cristovão Tezza, Sérgio Rodrigues e Lourenço Mutarelli.