O escritor Fabrício Corsaletti participou do Segundas Intenções
Postado em 31 DE agosto DE 2017Corsaletti nasceu em Santo Anastácio (SP) em 1978 e desde 1997 vive na capital paulista. Começou a escrever aos 15 anos, influenciado por Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Paulo Leminski e Vinicius de Moraes. À época, escrevia de 10 a 15 poemas por dia e teve grande incentivo das professoras de redação e literatura, que lhe emprestavam livros.
Sua estreia veio com o livro de poemas Movediço, publicado em 2001. Considera que a obra dá conta de falar o que ele queria, obviamente com a experiência que tinha. Seu segundo livro é O sobrevivente, publicado em 2003, que considera um tanto apressado. Em 2007, lança a terceira obra, História das demolições, que tem alguns dos seus melhores poemas, embora considere o conjunto irregular. Na visão dele, o contexto é de um certo esgotamento de temas. Todos os três volumes estão reunidos em Estudos para o seu corpo, editado em 2007, que também traz poemas inéditos. “Esses livros compõem a minha primeira fase, não desgosto deles. Mas não escrevo mais assim”, disse.
Um ponto de virada foi quando ele leu Rilke shake, da poeta Angélica Freitas. Ficou apaixonado pela maneira que a autora gaúcha explora o mundo contemporâneo. “Acho que o grande desafio é definir o tom para dizer o que quero dizer. A Angélica entrou nessa vida moderna com muito humor. Devo muito a ela essa mudança nos meus livros. Passei a inserir humor e uma autoironia”, dizendo que já aflorava o olhar do cronista que ele se tornaria mais tarde. O resultado dessa segunda fase é Esquimó, de 2010, que conquistou o Prêmio Bravo! e os críticos. Eles disseram que os 60 poemas confirmavam a qualidade e o vigor do texto, que é ao mesmo tempo desaforado, suave e delicado.
Vale lembrar que o escritor está inserido no contexto da poesia brasileira. Conta que autores da segunda geração do modernismo como Murilo Mendes já lutavam para quebrar a tradição parnasiana e inserir a realidade em seus textos. Mas eles ainda olhavam a cultura popular de cima, de uma maneira elitizada e intelectualizada. Afirma que escritores como o americano Raymond Carver não subiam num pedestal para falar difícil, fazendo inversões sintáticas. E que a poesia no Brasil ainda é muito influenciada por João Cabral de Melo Neto, que tinha um processo guiado pelo rigor estético e pelo raciocínio sintético.
Já Corsaletti não precisa fazer concessões. Frutos dos anos 80, uma geração ‘artificiosa e de plástico’, consegue falar de coisas mundanas sem ser dissimulado. Deixou de ser sério demais, de estar preso a uma melancolia que ele define como ‘a nostalgia do futuro’, tendo mais liberdade para abordar os assuntos que queria, gerando livros diferentes dos que escrevia antes.
Manuel analisa que a geração dele, de Antonio Prata, Chico Mattoso, Bruna Beber e Fabiano Calixto restaura a tradição da camaradagem literária, que agora se dá na conversa de boteco. “A gente tem o acontecimento no texto, é uma abordagem diferente, pouco acadêmica. Trabalhar o cotidiano é um clichê, se faz isso há cem anos. O desafio é ir direto para o fato. Ele é que tem que dar conta. É capturar a imagem sem escrever o subtexto. É no mundo banal que as coisas trágicas acontecem”, disse Corsaletti.
Um terceiro ponto de mudança se deu quando passou a escrever em prosa. Afirma que a poesia é o seu lugar e que a prosa é uma extensão de sua poética. Este processo iniciou com uma viagem a Buenos Aires e culminou com o convite para publicar na Folha de S. Paulo, onde é colunista da Revista sãopaulo desde 2010.
A coletâneas de contos King Kong e cervejas, de 2008, marca a sua estreia no gênero. Narra a adolescência de um garoto em uma cidade do interior, trazendo a oposição entre o acanhamento do lugar e a vastidão do mundo. Conta que a obra é inspirada no poeta galês Dylan Thomas e que gosta muito dela como conjunto. O título se deu por conta de uma marchinha feita por seu pai chamada King Kong.
Já a Argentina serviu de cenário para Golpe de ar, lançado em 2009, onde foi influenciado por romances como Paris é uma festa, de Ernest Hemingway e O jogo da amarelinha, de Julio Cortázar. A novela de 90 páginas conta a história de um poeta deprimido que vive em Buenos Aires em busca de alguma definição. Ao longo da trama, conhece seis meninas brasileiras de férias que passam a morar com ele. Como define o escritor Alberto Martins, “o protagonista passa a viver uma série de aventuras poético-amorosas, retratadas com leveza e encantamento”.
Em 2014, lançou o livro de crônicas Ela me dá capim e eu zurro, que tem o título extraído de um livro de citações chamado Shakespeare de A a Z. Ele tinha lido algumas obras do inglês como Romeu e Julieta, Hamlet e Rei Lear. Comprou o título para passar o tempo em uma viagem, mas começou a achar aquelas frases soltas e sem contexto muito próximas da autoajuda. “Isso nos coloca em pânico, falam há mais de 400 anos que o cara é o maior escritor de todos os tempos. Faz a gente desconfiar de nós mesmos. Mas achei uma delas, que dá título ao livro”, relata.
Também é autor de uma série de livros infantojuvenis: Zoo (2005), Zoo zureta (2010) e Zoo zoado (2014). Discorda de quem diz que redigir para crianças é igual que escrever para adultos. Acha que são muitas as diferenças: ele não se sente neste universo dos pequenos e escolhe temas e palavras mais leves e fáceis.
Fechando o ciclo, comentou sobre seus mais recentes lançamentos em poesia. Em Quadras paulistanas, de 2013, coloca as rimas a serviço da crônica do cotidiano. Já em Baladas, lançado no ano passado, usa esta forma poética tradicional para falar do vaivém entre a farra e a ressaca, a gíria e a métrica.
O Segundas Intenções é um programa mensal de bate-papo com escritores. Em setembro, a BSP convida Veronica Stigger para uma conversa no dia 30. Já a Biblioteca Parque Villa-Lobos recebe o autor Ilan Brenman, no dia 16.