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O beabá do cordel

Postado em 01 DE agosto DE 2012
Hoje, 1º de agosto, é comemorado o Dia do Poeta da Literatura de Cordel.

Quer saber mais sobre esse estilo? Leia abaixo o texto do cearense Manuel Moreira Júnior, que explica, em formato de cordel, as origens, a evolução e os principais expoentes desse gênero literário.

 

 

O beabá do Cordel

Eu resolvi escrever
Um cordel sobre CORDEL
Porque o cordel tem sido
Meu companheiro fiel
E pra tirar do leitor
Alguma dúvida cruel.


 

O cordel em minha vida
Esteve sempre presente;
Esteve, está e estará
Na vida de muita gente!
Comigo ele sempre foi
Um professor excelente.


 

É que nasci no sertão
Onde havia pouca escola.
Por lá os divertimentos
Eram: um joguinho de bola,
Forrós, vaquejadas e
Versos ao som da viola.  


.


.


.


 

Literatura de cordel

E as leituras de folhetos
Dos poetas do sertão.
Quando aparecia um,
Os jovens da região
Se reuniam e atentos
Ouviam a narração.

 

Pois o povo era sensível,
E apesar de ser pacato,
De ter pouca informação
E de residir no mato,
A leitura de folhetos
Foi sempre o grande barato.

 

Era comum na fazendo
A gente se reunir
Ao redor de uma fogueira
Pouco antes de dormir
Para ler versos rimados,
Cantar e se divertir.

 

O Pavão Misterioso,
Coco Verde e Melancia
E o de Pedro Malazarte
A gente com gosto lia.
E se emocionava
Com cada autor que surgia.

 

José Pacheco, a meu ver,
Foi um poeta moderno.
O seu folheto “A Chegada
De Lampião no Inferno”
É um dos mais bem compostos,
Nasceu para ser eterno.

 

E nesse clima poético
Pude me desenvolver.
Sempre lendo, sempre atento,
E depois de tanto ler
E de tanto ouvir, senti
Que precisava escrever.

 

Mas para escrever direito
Era preciso estudar,
Dominar a arte de
Rimar e metrificar.
E pra botar conteúdo
Eu tinha que pesquisar.

 

E li muitos e bons livros:
O Dicionário, a Gramática!
Devorei livros de História,
De Redação, Matemática,
E tudo que eu aprendia
Ia colocando em prática.

 

Fiz meus primeiros versinhos
Com quinze anos de idade;
Mas uns versos primitivos,
Sem muita propriedade
Pois nessa idade ninguém
É poeta de verdade.

 

Mas prossegui pesquisando;
Lendo isso, lendo aquilo,
Questionando, indo atrás,
Curioso e intranquilo;
E escrevendo muito, até
Desenvolver meu estilo.

 

E li poesia branca,
Li poesia rimada,
Li poesia matuta,
Moderna, metrificada,
E descobri que pra ler
Qualquer estilo me agrada.

 

Mas na hora de escrever
Foi que eu pude constatar
Que minha paixão maior
Era mesmo o popular.
E as origens do cordel
Eu resolvi pesquisar.

 

E li Câmara Cascudo
Do começo até o fim;
Patativa do Assaré,
Juvenal Galeno, enfim,
Descobri que essa cultura
Estava dentro de mim.

 

E li os versos e a história
De Inácio da Catingueira
E Silvino Piraurá,
Essa gente pioneira
Que foi fundamental para
A cultura brasileira.

 

Depois de ler esses vultos
Eu, com muito, gosto li
Os versos do imortal
José Duda do Zumbi.
E nessa constante busca,
Inquieto eu prossegui.

 

Depois li mais versos de
José Camelo de Melo
E também Leandro Gomes
De Barros. E aqui revelo:
O trabalho de Leandro
É pra mim sem paralelo.

 

Leandro foi, a meu ver,
O primeiro sem segundo;
Foi ele o mais cuidadoso.
Se não foi o mais profundo,
Mas foi, com toda certeza,
No seu tempo o mais fecundo.

 

Primou pela qualidade,
Teve vasta produção,
Vendeu muitos mil cordéis,
E em certa ocasião
Drummond o chamou de príncipe
Dos poetas do sertão.

 

Foi João Martins de Atayde
Outro grande ídolo meu.
Foi mesmo gigante o número
De versos que ele escreveu.
Os cordéis que publicou
Muita, muita gente leu.

 

São esses alguns autores
Que marcaram minha infância
E minha adolescência,
E com bastante elegância
Tiraram este poeta
Das trevas da ignorância.

 

Houve muitos outros bardos
Que pisaram o mesmo chão,
Brilharam com seus cordéis,
Serviram de inspiração
E que bordaram de sonhos
A minha imaginação.

 

Muito bem! Depois de ler
Esses e outros autores
Busquei mais informações,
Falei com pesquisadores,
Vasculhei bibliotecas,
Conversei com professores.

 

Descobri que na Península
Ibérica, há séculos atrás,
Essa arte era uma espécie
De narrativas orais
Recitadas nos castelos
E nos Palácios Reais.

 

E foi com os portugueses
Que essa arte aqui chegou,
Instalou-se no Nordeste
E se aperfeiçoou,
Modernizou-se e em seguida
Pelo Brasil se espalhou.

 

Histórias que divertiam
O Brasil colonial
Foram logo adaptadas
À realidade local;
Mais outros temas, porém,
Ainda de cunho oral.

 

Só no século XIX,
Acompanhando o progresso,
Essas histórias rimadas,
Depois de fazer sucesso
Entre o povo sertanejo,
Passaram para o impresso.

 

Há alguma controvérsia,
Mas dizem que o primeiro
A publicar um livrinho
No Nordeste brasileiro
Foi Silvino Pirauá.
Sendo ele assim, pioneiro.

 

Era mais ou menos mil
E oitocentos e noventa
Quando esse fato se deu,
Segundo o que se comenta.
O certo é que desde então
Essa arte se sustenta.

 

Vendidos nas feiras livres
Pendurados num cordão
Esses livretos viraram
O jornal da região
Levando conhecimento
Àquela população.

 

Nesse tempo no Nordeste
Televisão não havia.
Também não havia rádio,
Muito menos energia,
Mas o povo era sensível,
Gostava de poesia.

 

E quando surgia uma
Notícia espetacular
De catástrofe ou de guerra,
O poeta popular
Preparava seu poema
E saía a declamar.

 

Depois mandava imprimir
E o comercializava.
Chegava nas feiras livres,
Em um canto se instalava,
Declamava, enquanto o povo
Atento ouvia e comprava.

 

Por ser um livreto impresso,
Mesmo em precário papel,
Exposto em pequena corda,
O seu leitor mais fiel
Depressa o batizou de
Poesia de cordel.

 

Os poetas populares
Logo se multiplicaram.
Os sertanejos atentos
Por certo muito gostaram
E foi lendo cordel que
Muitos se alfabetizaram.

 

Os principais temas foram
Cangaço e religião.
Já li muitos cordéis sobre
Padre Cícero e Lampião
E outras grandes narrativas
Ocorridas no sertão.

 

Outro fator importante
Nesse tipo de cultura
Foi que os artistas passaram
A usar Xilogravura,
Um processo artesanal
Que enriquecia a brochura.

 

No começo esses livretos
Eram Em QUADRAS escritos;
Com versos de sete sílabas,
Porém poetas peritos
Acharam que com sextilhas
Ficariam mais bonitos.

 

SEXTILHA é esse estilo
Que você está lendo agora;
Seis versos de sete sílabas,
E foi enorme a melhora,
Pois cada estrofe assim vibra
De maneira mais sonora.

 

Cada verso é uma linha,
Como você vê aqui.
Os versos dois, quatro e seis,
Esses rimam entre si
Mas os ímpares não rimam,
Isso, cedo eu aprendi.

 

Esse estilo de seis linhas
É o mais utilizado
Hoje pelos bons poetas,
Como em recente passado.
Mas SETE LINHAS também
É bastante apreciado.

 

Já li cordéis em oitavas!
Muito raros. Estranhei,
Pois escrevendo sextilhas
Foi que eu me projetei;
E o estilo sete linhas
Jamais abandonarei.

 

Muitos escrevem em décimas,
Eu não faço objeção.
Pois pra mim o que interessa
Para a realização
De um bom cordel, são três itens:
Métrica, Rima e Oração.

 

Infelizmente inda há
Poetas despreparados
Que não sei por que publicam
Cordéis desmetrificados,
Muito pobres de teor,
E o mais cruel: mal rimados.

 

Não se se sou bom, mas tento
Ser um perfeccionista
E busco fazer bem feito,
Pois acho que o grande artista
É aquele que evolui
Em todo ponto de vista.

 

Por exemplo: esse livrinho
Que você tá lendo agora,
Se reparar com cuidado
Verá a grande melhora
Inclusive no formato,
Bem diferente de outrora.

 

Até na capa você
Percebe mais de uma cor,
Desenhos mais produzidos,
Papel de melhor valor...
São os efeitos benéficos
Que trouxe o computador.

 

É como diz Zé Maria,
Bom poeta, um cidadão:
Se você não aceitar
A lei da evolução,
Volte para o pergaminho
E não saia do sertão!

 

É isso que eu penso. Mas
Preparo pra brevemente
Um outro cordel que trata
De viola e de REPENTE,
Essa arte popular,
Difícil, que agrada a gente.

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