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Livros difíceis de traduzir

Postado em 24 DE julho DE 2013
[caption id="attachment_4431" align="aligncenter" width="614"]estudando2 Foto: photopin[/caption]

Livros cujos textos são marcados por experimentações, neologismos e outras figuras de linguagem podem ser um problema para os tradutores. Naturalmente, não é nada fácil traçar uma ponte entre duas línguas, transportar mundos e personagens para outros contextos e encontrar o sentido exato de expressões e analogias estrangeiras. E quanto mais inventivo for o autor da obra original, mais desafiador é traduzir.

A revista Superinteressante, com a ajuda de Adriana Pagano, professora e coordenadora da área de Tradução da Faculdade de Letras da UFMG, listou sete livros estrangeiros difíceis de serem traduzidos para o português. Confira:
1. Ulysses, de James Joyce
Suas mais de mil páginas são preenchidas pela ousadia linguística de James Joyce. Jogos de palavras, trocadilhos, citações e neologismos são apenas alguns dos recursos empregados pelo autor para narrar um dia na vida de Leopold Bloom que, em 24 horas – entre 15 e 16 de junho de 1904 -, vive aventuras parecidas com as de Ulisses, na Odisséia, de Homero. A obra, publicada em capítulos a partir de 1918 na revista americana The Little Review, não é facilmente transposta para o português. O primeiro a se aventurar nesta empreitada foi Antônio Houaiss, em 1966. Depois foi a vez de Bernardina da Silva Pinheiro, em 2005. Mais recentemente, Caetano W. Galindo assinou a tradução lançada em 2012 pela Companhia das Letras, optando por deixar de fora as inúmeras notas-referência da obra original. Uma opção defendida por apresentar a obra como ela é.

2. Bliss, de Katherine Mansfield (1918)
O famoso conto da escritora neozelandesa Katherine Mansfield, Bliss, acompanha a personagem principal, Bertha, em um dia de intensa e ingênua alegria. Poderia ser um texto simples, mas não é. Temos a impressão de estarmos na mente da personagem principal, mas ao mesmo tempo somos relembrados de que há um narrador externo que nos conta a história. O tradutor precisa ter sensibilidade para os diferentes planos narrativos e lembrar que há diferentes personagens interagindo que demandam um tipo de linguagem diferenciado. Traduzido para o português por cinco autores diferentes, o conto ganhou no país títulos também distintos: Êxtase, nas letras de Ana Cristina Cesar (1980); Infinita Felicidade, assinada por Edla van Steen e Eduardo Brandão (1984); e Felicidade, nas versões de Érico Veríssimo (1940), de Julieta Cupertino (1991), e de Maura Sardinha (1993).

3. Finnegans Wake, de James Joyce (1938)
"rolarrioanna e passa por Nossenhora d’Ohmem’s, roçando a praia, beirando ABahia, reconduz-nos por cominhos recorrentes de Vico ao de Howth Castelo Earredores."
É assim que tem início o Finnicius Revém do tradutor Donaldo Schüler. Difícil de entender? Fica pior.  James Joyce levou 17 anos para completar aquela que seria considerada uma das mais difíceis obras de ficção da literatura em língua inglesa e um marco da literatura experimental. No livro, o último publicado pelo autor irlandês, palavras do inglês e de outras línguas são fundidas, criando uma linguagem única. O resultado: múltiplos sentidos e um trabalho hercúleo para o leitor e para o tradutor que aceita o desafio.

4. Infinite Jest, de David Foster Wallace (1996)
Uma família problemática, quadras de tênis, rehab, depressão, publicidade e reflexões sobre a maneira como o entretenimento domina nossas vidas – tudo se mistura no romance de David Foster Wallace, que se passa em uma versão futura (e absurda) da América do Norte. O extenso livro – são mais de mil páginas – conta com 388 notas de rodapé (sendo que algumas notas também têm notas de rodapé), um recurso que, segundo o autor, ajuda a quebrar a linearidade da história e, ao mesmo tempo, manter a coesão interna. O doutor em Linguística pela USP, Caetano W. Galindo, está trabalhando atualmente na tradução do livro para o português. Caetano, que passou 10 anos trabalhando em Ulysses, deve terminar esta nova odisseia em 10 meses.

5. Mason & Dixon, de Thomas Pynchon (1997)
“Romance histórico” é um termo aplicável ao livro lançado por Thomas Pynchon em 1997, mas não traduz bem a grandiosidade de sua obra. Em Mason & Dixon, ao mesmo tempo em que faz referências históricas precisas, o autor estadunidense dá lugar a personagens fantásticos e a grandes voos de imaginação. O livro conta a história dos cientistas Charles Mason e Jeremiah Dixon, que adentram o continente norte-americano do século XVIII explorando territórios indígenas. Para contar este conto não bastou a Pynchon ambientar a história no passado: a própria linguagem em que o livro é escrito recria o inglês setecentista. O poeta e tradutor Paulo Henriques Britto levou anos para realizar a tradução para o português de Madson & Dixon. A atualidade da obra lhe permitiu um privilégio: consultar o próprio Pynchon.

6. Cloud Atlas, de David Mitchel (2004)
Cloud Atlas, música composta pelo japonês Toshi Ichiyanagi, primeiro marido de Yoko Ono, inspira o título homônimo da obra de Mitchel. Ainda sem tradução para o português (por que será?), Cloud Atlas é composto por seis histórias que levam o leitor por uma viagem no tempo e na linguagem. Do Pacífico Sul do século XIX a um distante futuro pós-apocalíptico, cada conto presente no livro é lido e observado pelo personagem principal da história seguinte. E tem mais: as cinco primeiras histórias são interrompidas em um momento chave da narrativa. O livro, bem recebido pela crítica, principalmente por colocar um “espelho” no centro do livro. Depois do sexto conto, cada uma das cinco histórias é revisitada e concluída – mas em ordem cronológica inversa.

7. The Tree of Codes, Jonathan Safran Foer (2010)
Nenhum livro é intraduzível, é verdade, mas The Tree of Codes certamente é um quebra-cabeças desafiador – principalmente, por sua forma. A obra, do mesmo autor de Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, é o que se pode chamar de livro-objeto - além de ser lido, ele pode ser experimentado como uma obra de arte visual. A ideia nasceu da vontade do autor de criar um livro a partir de recortes, explorando a relação física entre as páginas e a maneira como isso poderia ser desenvolvido para criar uma narrativa. Para tornar isso palpável, Foer passou a recortar e subtrair dele palavras, frases e parágrafos, esculpindo (literalmente) uma nova história. O trabalho artesanal foi elevado a uma publicação em grande escala e quem compra o livro pode folhear suas frágeis e poéticas páginas vazadas. Como transpor essa mesma experiência (e seu processo) para outra língua?

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