Leiturismo na Santa Casa
Postado em 23 DE maio DE 2013Na tarde de terça-feira (21/5), cerca de 20 alunos da Escola Municipal ??? Bartolomeu Lourenço de Gusmão estavam reunidos num micro-ônibus com destino a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Conversam sobre a nova novela das 8, que tinha estreado no dia anterior. E sobre como se tira uma foto no moderno celular. Minutos antes, o assunto era outro: literatura. Mais precisamente o livro infantojuvenil Por um triz – O enigma dos gnomos pigmeus, de Michel Gorski e Sílvia Zatz. O romance mistura suspense e aventura e tem como cenário a Santa Casa de São Paulo. Os estudantes vão aprender um pouco da sua história da instituição e conhecer mais sobre os corredores retratados no livro.
Esta é a primeira turma de um novo projeto da Biblioteca de São Paulo, o Leiturismo, que busca incentivar a leitura entre crianças e jovens na capital paulista. E principalmente mostrar cenários da literatura para os alunos em idade escolar. Para tornar a experiência mais completa, os estudantes receberam exemplares do livro para ler antes do passeio e, na manhã seguinte, foram à biblioteca para um bate-papo com os autores. A obra está disponível na Biblioteca de São Paulo.
História na Santa Casa
Na visita ao museu da Santa Casa – existe há cerca de 13 anos – viram a Roda dos Expostos, um móvel em que as mães que não tinham condições de criar seus filhos nos séculos XVII e XIV deixavam os bebês para que as irmãs da Santa Casa cuidassem. Estima-se que 4.696 crianças tenham sido deixadas aos cuidados da Santa Casa ao longo de sua história. “Este é o móvel mais importante do nosso museu”, avisa a coordenadora e organizadora do Museu e Capela, Maria Nazarete de Barros Andrade.
Os alunos também aprenderam sobre a história da instituição, que foi fundada em 1560 pelos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, originalmente no Pátio do Colégio, parte histórica do centro de São Paulo. O prédio atual da Santa Casa foi inaugurado em 1884 e sedia atualmente o maior hospital beneficente da América Latina, onde são atendidas cerca de 8.000 pessoas por dia.
“Caraca, que legal”, diz um dos alunos ao entrar numa sala destinada a equipamentos e instrumentos antigos que fica no museu. Os alunos também ficaram surpresos ao avistar uma sala de medicamentos antigos usados durante o século passado. Na visita, os estudantes também aprenderam sobre os grandes personagens da instituição, como Dr. Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho, Diogo Teixeira de Farias e Vital Brasil. Médicos que hoje são nomes de ruas da cidade de São Paulo. O acervo do museu conta com mais de 7.000 peças distribuídas.
Bate-papo na BSP
Na manhã da quarta-feira (22/5), as crianças foram debater com os autores Michel Gorski e Sílvia Zatz, autores do livro. Cheios de dúvidas e questionamentos, eles queriam saber como foi escrever o livro em conjunto, como surgiu o nome da obra, qual o motivo dos personagens serem poloneses, por que os autores escolheram ambientar na Santa Casa ou usar gnomos na história e muito, muito mais. Foram cerca de duas horas de bate-papo, seguido por uma sessão de autógrafos.
Para a estudante Natasha Elizabete de Freitas , de 11 anos, o livro é uma boa forma de aprender mais sobre a cidade. “A gente se identificou com a história da protagonista Ana Rendel, a menina que é uma das narradoras. E foi interessante conhecer a Santa Casa, que foi o lugar que eu nasci e nunca tinha entrado”, comentou. Já Bruno Venancio Casante, 11 anos, contou que os autores “conseguiram relatar bem direitinho como eles escreveram o livro, a história é ótima e impactante”.
Michel Gorski contou aos alunos que uma continuação do livro já está escrito e deve ser lançada em breve pela Editora Rocco. E perguntou aos estudantes se o livro deveria ser lançado como filme. Os alunos acenaram positivamente. “As perguntas dos alunos foram muito boas. Não era apenas um trabalho de escola, eles estavam claramente motivados pela história e pelo Leiturismo”, afirmou.
A mediadora do bate-papo, Paula Lisboa, concorda que as crianças estavam muito interessadas pelo livro. “Fizeram perguntas melhores do que as minhas”, comentou rindo. E disse que o ponto positivo do projeto é mostrar que a literatura faz parte do cotidiano das pessoas. “A proposta do projeto é ampliar a experiência da leitura”.
Já coautora Sílvia Zatz contou que a história não foi construída de maneira linear e que a troca de experiências entre ela e Michel foi muito positiva. E que originalmente o livro não foi escrito visando o público juvenil, mas que a inserção de gnomos na história criou uma afinidade com essa faixa etária. E relembrou que “recentemente estive na Santa Casa e andar por aqueles corredores foi como entrar na história dos meus protagonistas”.
A escritora também falou sobre o contato com seus jovens leitores. “Com este projeto, percebemos que as crianças conseguiram de fato se encantar pelas histórias e criaram diversas interpretações e questões que a gente nem imaginava”, afirmou. “Acho que o projeto mostra que a cidade pode ser uma fonte de inspiração para as pessoas. Conseguimos unir espaço, história e ficção, o que é a melhor parte do Leiturismo. E as crianças captaram o espírito do projeto”, finaliza Michel.