Desafio: ler um livro de cada país
Postado em 12 DE setembro DE 2013Em 2012, a escritora inglesa Ann Morgan lançou um desafio a si mesma: ler um livro de todos os países do mundo em um ano. Abaixo, ela descreve essa experiência singular e conta o que aprendeu.
“Eu costumava conceber a mim mesma como um tipo de pessoa relativamente cosmopolita, mas minhas estantes de livros contavam uma história diferente. Além de alguns romances indianos e de um livro australiano e um sul-africano esquisitos, minha coleção de literatura era formada por títulos ingleses e norte-americanos. Pior ainda: eu raramente lia obras traduzidas.
Minhas leituras eram limitadas a histórias escritas por autores falantes de inglês. Então, no começo de 2012, estabeleci um desafio a mim mesma: tentar ler um livro de todos os países em um ano para encontrar o que eu havia perdido (bem, de todos os 195 países reconhecidos pela ONU mais o ex-membro da Organização, Taiwan).
Sem fazer ideia de como fazer isso – já que era improvável encontrar publicações das quase 200 nações nas prateleiras da minha livraria local -, decidi pedir ajuda aos leitores de todo o mundo. Criei um blog chamado “A Year of Reading a World e fiz um apelo para sugestões de obras que eu pudesse ler em inglês.
O retorno foi incrível. Antes que eu pudesse perceber, pessoas de todo o mundo estavam oferecendo ajuda. Algumas me enviaram livros dos seus países, outras realizaram horas de pesquisas por mim. Além disso, vários escritores – como o turcomano Ak Welsapar e o panamenho Juan David Morgan – me enviaram traduções ainda não publicadas de seus romances, me concedendo a honra de ler diversos trabalhos que não estão disponíveis para 62% dos britânicos que falam apenas inglês.
No entanto, mesmo com um extraordinário time de bibliófilos me apoiando, encontrar os livros não foi uma tarefa simples. No início, com traduções suprindo apenas 4,5% das obras literárias publicadas no Reino Unido e na Irlanda, obter versões das histórias em inglês foi extremamente complicado. Havia pouquíssimas coisas de países como Comores, Madagascar, Guiné-Bissau e Moçambique, por exemplo.
Depois haviam países em que histórias são raramente escritas. Se você está atrás de uma boa narrativa das Ilhas Marshall, por exemplo, provavelmente terá que ir até lá e pedir permissão aos chefes locais (iroij’s) para escutar um dos contadores de histórias e só então conseguir um livro.
De modo geral, procurar por histórias me tomou tanto tempo quanto ler e escrever para o blog. Foi uma tarefa difícil conciliar tudo isso em torno do trabalho e muitas foram as noites em que me sentei com os olhos turvos de madrugada para ter certeza de que conseguiria manter minha meta de ler um livro a cada 1,87 dias.
Mas o esforço valeu a pena. Nas mãos de talentosos escritores, descobri que a viagem através dos livros me oferecia uma coisa que um viajante físico espera viver apenas raras vezes: eles me levavam para dentro dos pensamentos de pessoas que viviam muito longe e me mostravam o mundo através de seus olhos. Mais poderoso que milhares de reportagens recentes, essas histórias não apenas abriram minha mente para o funcionamento da vida em outros lugares, mas abriram meu coração para a maneira como as pessoas distantes podem sentir.
E isso, por sua vez, mudou minha percepção. Por meio da leitura de histórias compartilhadas comigo por amantes de livros desconhecidos de todo o mundo, percebi que eu não era uma pessoa isolada, mas parte de uma rede que se estende por todo o planeta."