Autor de 'Grande Sertão: Veredas', Guimarães Rosa completaria 112 anos
Postado em 27 DE junho DE 2020

Autor de "Sagarana" e "Grande Sertão: Veredas", João Guimarães Rosa (1908-1967) entrou para a história da literatura brasileira tanto pelas inovações de linguagem, ao usar em seus livros falas populares e expressões regionais, quanto por retratar o mundo sertanejo que conheceu em suas andanças como médico no interior de Minas Gerais.
Nascido há 112 anos, em Cordisburgo, o filho de Florduardo Pinto Rosa e Francisca Guimarães era formado em medicina pela Universidade de Minas Gerais. No entanto, fez carreira no Itamaraty, onde ingressou por concurso em 1934, e exerceu várias funções, até ser promovido a ministro de primeira classe.
A literatura perpassa os dois ofícios. Sua estreia como escritor deu-se em 1929, com a publicação, na revista O Cruzeiro, do conto gótico "O Mistério de Highmore Hall". Em 1936, a coletânea de versos "Magma", único volume de poesias do autor, recebe o Prêmio Academia Brasileira de Letras.
Publicada em 1946, a coletânea de contos "Sagarana" recebe várias premiações e marca a consagração de Guimarães Rosa como escritor. Publicado em 1956, "Grande sertão: Veredas" é considerado hoje uma das obras mais importantes da ficção brasileira do século XX. É o único romance escrito pelo autor e um dos mais importantes da literatura brasileira. Leia um trecho:
Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser se viu; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, essa figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, carão de cão: determinaram era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucaia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte.
Terceiro ocupante da Cadeira 2 da Academia Brasileira de Letras, Guimarães Rosa foi eleito em 8 de agosto de 1963, na sucessão de João Neves da Fontoura. No entanto, ele só tomaria posse mais de quatro anos depois, em 16 de novembro de 1967. Temia que, como previsto por um pai de santo com quem trocava correspondências, morresse no auge da fama.
Guimarães Rosa desfrutou de seu fardão por apenas três dias. Morreu em 19 de novembro, no Rio de Janeiro, aos 59 anos. Vítima de um ataque cardíaco.
A José Olympio, sua editora na época, publicou postumamente "Estas estórias", em 1969, e "Ave, palavra", em 1970. As duas obras foram editadas por Paulo Rónai. Encerraram uma obra que se resume a oito livros, um legado que transformou a literatura brasileira.
As bibliotecas de São Paulo e Parque Villa-Lobos têm em seu acervo obras de Guimarães Rosa. É importante lembrar que, devido às medidas para contenção da pandemia do novo coronavírus, ambas as bibliotecas estão com atividades presenciais suspensas.
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