Conheça mais detalhes da exposição A Zona Norte conta suas histórias
Postado em 18 DE dezembro DE 2018Renata escreveu um depoimento sobre como foi o envolvimento com o projeto e sua aplicação para a turma, do início até o dia da inauguração, onde ela e seus alunos puderam ver o resultado de tanto trabalho e empenho.
Confira um pouco de como foi o desenvolvimento do projeto até chegar na exposição!
"No primeiro encontro nos demos conta do tamanho da enrascada que nos metemos. O projeto era longo, cheio de etapas e tarefas, com prazos apertados, porém recheado de surpresas e descobertas.
A proposta-desafio era “reconhecer nosso lugar a partir das pequenas narrativas, das narrativas de vida dos habitantes antigos do nosso lugar” e poder assim contar uma nova versão da nossa história.
Lembro-me de pensar “onde eu fui me meter...certamente não darei conta”...e o mais tenso ainda...”com que sala vou desenvolver esse projeto?” Aí, como dizia vovó “tá no inferno abraça o capeta”, escolhi aquela sala que demanda mais energia...sabe, aquela sala abençoada!!!! E prossegui meio incrédula.
E vieram os nossos encontros noturnos lá na DRE, depois de um dia inteiro de serviço, longos translados para alguns (porque os Jardins e Vila da Freguesia parecem não ter fronteiras), lanches sorrateiros e deliciosas oficinas nas quais experimentávamos tudo que depois iríamos propor aos nossos alunos. E assim foi! Uma deliciosa experiência de ouvir as narrativas do outro com ouvidos atentos e muitos nós na garganta. Histórias que se cruzam, que se assemelham como nas memórias de infância de brinquedos novos cuidadosamente guardados bem acima das cabeças infantis, usados apenas uma vez ao ano...recomeços, alguns de passos curtos outros em lugares distantes levando uma bagagem valiosa: uma bicicleta e uma mala cheia de livros...danças do ventre...doações...adoções...amores e desamores...
Com os alunos a emoção também foi tamanha: a pergunta lançada na sala em círculo “quem quer compartilhar com a turma uma memória que queira e possa falar?” E após um longo silêncio presenciar um aluno de oitavo ano ter a coragem de mostrar toda a sua singeleza dividindo com o grupo, com voz embargada e olhos úmidos, que estava muito feliz porque conheceria sua irmã mais velha que mora em outro estado.
As cidades imaginadas revelaram visões otimistas e pessimistas do futuro.
Trocar cartas com um amigo-desconhecido foi desafiador para os adultos, porém uma deliciosa brincadeira de escrita para os meninos e meninas. Escolher as palavras certas, caprichar na letra, decorar com um adesivo ou um desenho, ter o cuidado de trocar cartas com alunos menores respeitando suas ingenuidades foi de fato muito enriquecer e gratificante.
E vieram os desenhos. Observar e desenhar, imaginar e desenhar, fechar os olhos para o papel e abrir os olhos pra alma e desenhar. Não esquecerei jamais de como fui retratada pelo colega Gilson. E quando aplicamos com os alunos as oficinas de desenho eles realmente amaram.
As oficinas de escrita, para soltar a mão como dizia o Danilo, ficaram esmagadas no tempo que gritava...uma pena!!!
Chegou a hora tão esperada da entrevista, em três etapas:
Pré-entrevista: determinar os critérios para escolher o depoente, convidar depoente, escolher depoente estepe, preparar o roteiro das perguntas, atribuir responsabilidade para cada aluno, marcar data da entrevista, organizar tudo para o dia da entrevista, preparar agradecimento para o depoente, direito de imagem de todos...e o tempo apertado e o Danilo cobrando e a gente cobrando o Roberto para garantir que todos os nossos alunos estivessem aqui hoje.
Segunda etapa: a entrevista e nossos cabelos em pé...como nossos alunos vão se comportar? Vão nos fazer passar vergonha ou vão faltar no dia? Ou a polícia vai tornar o momento mais aflitivo ainda num lugar que teima em ser de sonhos? Mas eis que tudo foi perfeito, foi lindo e emocionante. Um momento mágico dentre tantos desafios e injustiças que professores e alunos da escola pública sobrevivem...
Ufa, acabamos! Não!!! Lá vem a terceira etapa: pós-entrevista. O prazo nos enforcando...organizar desenhos do depoente, selecionar e escrever coletivamente com os alunos a memória que fez o depoente brilhar os olhos (missão difícil), e o prazo nos esmagando, selecionar fotos, vídeos, desenhos, texto (e quanto material tínhamos), separar tudo e juntar tudo no site dentro do prazo final...enfim, postado!
Mas não acabou...quando será o evento? Como será o evento? Quem irá ao evento? Roberto entra em ação, quase o enlouquecemos com a nossa loucura...queremos levar todos, queremos ônibus pra todos, mas eles virão? É final de ano letivo, muitos já de férias...será que o depoente poderá comparecer?
E aqui estamos nós hoje, celebrando esse lindo e suado projeto! Mostrando que as narrativas da Freguesia/Brasilândia e de tantos outros bairros da nossa região não cabem presos nos muros da Zona Norte, ficarão eternizadas virtualmente porque “Todo lugar tem uma história para contar”.
Certamente faltou tempo, mas não faltou emoção!"
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