Biblioteca de Rachel volta ao Ceará
Postado em 24 DE janeiro DE 2017Rachel de Queiroz está de volta à sua terra natal. Após 10 longos anos distante do povo e da terra que tanto lhe deram inspiração para obras maravilhosas, a escritora retorna ao Ceará. Graças à parceria entre a Fundação Edson Queiroz e o Instituto Moreira Salles (IMS), no Rio de Janeiro, a valiosa biblioteca de Rachel de Queiroz, composta de 3.063 itens, sendo 2.800 livros e 263 periódicos, ficará à disposição de pesquisadores e do público em geral em dois espaços da Universidade de Fortaleza: a Biblioteca Central e a Biblioteca de Acervos Especiais.
A reitora da Unifor, professora Fátima Veras, explica que o acervo foi adquirido pelo IMS em 2006 e desde então ficou abrigado na sede do instituto, na Gávea, Rio de Janeiro. “A ideia da transferência desse acervo, da coordenadora de Literatura do IMS, a escritora Elvia Bezerra, foi prontamente acolhida pela Unifor e rapidamente formalizamos a doação”, acrescenta. O acervo, já devidamente catalogado e despachado do Rio de Janeiro por via terrestre, chegou a Fortaleza em janeiro. A expectativa da Unifor é que ele já esteja à disposição dos interessados em fevereiro, coincidindo com o reinício das aulas.
Para a reitora Fátima Veras, a iniciativa da Unifor e IMS se reveste da maior importância na medida em que permite o acesso dos cearenses a um acervo de valor histórico inestimável e de grande relevância para a pesquisa e preservação da literatura brasileira. “É com misto de orgulho e satisfação que trazemos a biblioteca de Rachel de Queiroz para os cearenses. Na Unifor, ela se unirá a outros grandes e importantes acervos, mas certamente esta biblioteca receberá carinho especial de alunos, professores e colaborares da Universidade e do público em geral por toda a sua relação com a história de todos nós, cearenses”, salienta.
Elvia Bezerra, do IMS, diz estar satisfeita com a doação da biblioteca, apesar de ter que se desfazer de um acervo tão valioso. O motivo é também de ordem natural e afetiva. Isso porque Elvia é cearense. Natural de Mombaça, “bem pertinho de Quixadá”, terra natal da autora de O Quinze, Elvia acha mais do que justo que Rachel de Queiroz retorne para o seu Estado e, claro, para mais perto de sua fazenda, Não Me Deixes. “Rachel de Queiroz dormiu de rede até a sua morte, conservou o sotaque cearense e se manteve fiel às raízes ao longo da vida. Por todos esses motivos, e por considerar que os pesquisadores cearenses se beneficiarão do acesso aos livros, não houve nenhum empecilho para a concretização da doação. A ideia da transferência da biblioteca foi submetida ao Conselho de Acervos do Instituto Moreira Salles, que rapidamente a aprovou”, ressalta.
Elvia relembra com carinho a visita que fez a Rachel em 1993, em seu apartamento no Leblon. “Fui entrevistá-la para a redação de um ensaio sobre Manuel Bandeira, de quem era amiga. Ela me recepcionou com um sorriso acolhedor e me mostrou, emoldurado na parede, o original do ‘Louvado para Rachel de Queiroz', que o poeta lhe tinha dedicado. Ao nos sentarmos para dar início à entrevista, me deu um branco terrível, mas, graças a Deus, logo a conversa deslanchou e fluiu, muito gostosamente”, relata, rindo. O ensaio sobre Rachel de Queiroz foi publicado em 1995, com outros dois, sobre o poeta Ribeiro Couto e a psiquiatra Nise da Silveira, no livro A trinca do Curvelo.
Depois, já em 2009, Elvia voltaria a ter novo contato com a obra de Rachel de Queiroz. Ela foi responsável pela organização e pelo prefácio do livro Mandacaru, que reuniu 10 poemas escritos por uma Rachel ainda menina, antes mesmo de se aventurar no romance. “Foi uma homenagem linda no centenário de nascimento de Rachel de Queiroz, comemorado em 2010”, informa. Segundo Elvia, os poemas desses livro são fundamentais para se entender a extraordinária prosadora que surgiria em ‘O Quinze’, dois anos depois. “Toda a temática do romance fermenta ali, nos versos de Mandacaru”, avalia.
Mais recentemente, Elvia voltou a encontrar-se com a obra de Rachel de Queiroz, desta vez para organizar a 104ª edição de 'O Quinze', que acaba de ser publicada pela editora José Olympio, enriquecida com material inédito encontrado no arquivo da escritora. Elvia não tem dúvida de que a Unifor tem todas as condições para manter os livros e os periódicos em excelente estado de uso e conservação. “O Instituto Moreira Salles se sente muito tranquilo quanto a isso. Conhecemos a Unifor e sabemos que a universidade é qualificada para manter o alto padrão de cuidados estabelecido pelo IMS. Trata-se de uma bela parceria”, enfatiza.
Antes de homologar a doação, o IMS submeteu a decisão a Maria Luíza de Queiroz Salek, irmã da escritora. “Visitei-a em novembro de 2016, e ela concordou plenamente com o destino do acervo de Rachel”, declara Elvia. Mesma posição teve o bibliófilo José Augusto Bezerra, presidente da Academia Cearense de Letras e dono de vasto acervo sobre Rachel de Queiroz. “Todos reconhecem que a Unifor tem condições não só de preservar mas também de difundir esse rico material de pesquisa”, salienta.
O secretário de Cultura de Fortaleza, Evaldo Lima, ressalta a importância de Rachel de Queiroz e a figura feminina dentro da literatura brasileira. “A Rachel é patrimônio cultural deste país. Para o nosso mais intenso orgulho, ela é cearense. Ela foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras e suas obras literárias são repletas de sentimentos, afeto, identidade histórica e cultural”, disserta. “A Universidade de Fortaleza reforça essa tradição histórica. Ela possui acervo fabuloso de artes plásticas e obras literárias. Eu acredito que o acervo da Rachel estará muito bem guardado e disponível para toda a população cearense e brasileira”, alega.
Fonte: G1